Ângela e Luís

Tudo começou há mais de vinte anos, às portas do Piolho, o mítico café da cidade Invicta.

Foi aí que Luís e Ângela se conheceram. Ela frequentava o segundo ano de psicologia e ele era fotojornalista.

Havia algo nela que o encantou - o sorriso tímido, os olhos negros que pareciam falar, o jeito de criança perdida. Já ela imediatamente percebeu que Luís era o “chão” que lhe faltava.

Todos achavam que aqueles dois não iam durar, eram diferentes como a água do vinho. Mas passaram meses e anos e eles continuaram juntos. Ângela terminou o curso e Luís começou a ficar cansado da vida de jornalista.

Apesar de diferentes tinham algo em comum. Ambos precisavam de silêncio e liberdade. Queriam os prazeres simples da vida. Escutar o canto dos pássaros, apreciar o pôr-de-sol, cheirar a terra molhada.

Sempre que podiam, fugiam para as montanhas. Quando regressavam, traziam um nó na garganta. Sentiam-se tristes sem saberem porquê. Até que Luís compreendeu que os excessos da cidade, já não eram para ele. Precisava de mudar de vida. E foi dessa vontade que a ideia nasceu.

Luís desafiou Ângela a construir um turismo rural na Serra do Açor. Ela não respondeu logo. Era muito nova. Secretamente, ainda sonhava mudar o mundo.

Mas os meses passaram e Ângela começou a sentir-se sufocada no minúsculo apartamento onde viviam. A cada dia odiava mais o trânsito caótico, as noites ruidosas, as horas passadas à procura de estacionamento.  Ao fim de uns tempos, disse que sim.

Juntos percorreram a Serra do Açor de lés a lés. Foram milhares de quilómetros no velho Fiat, à procura de um terreno. Sonhavam com um descomplexo turístico, minimalista, que se integrasse na paisagem. Queriam algo simples: um espaço luminoso em que os hóspedes pudessem respirar, saborear a liberdade e contemplar a beleza esmagadora da montanha.

Até que descobriram Chãs D´Égua, a cinco minutos da aldeia do Piódão, e não procuraram mais. Aquele era o sítio certo.